quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ANTES DE LER, COLOQUE A MÚSICA PARA EXECUTAR


Todo carnaval tem seu fim
A banda no clube toca suas músicas preferidas e Ele, no entanto, está do lado de fora, esperando como de costume. Ele havia feito diferente. Para àquela noite haveria preparado algo especial para encantá-la, aprendera uma música que com muita coragem ousaria tocar, para o deleite de sua amada. A banda continua a tocar no clube e Ele ainda espera, espera e espera. Olha avidamente para todos os cantos e recantos da praça, na vontade de que seu olhar anuncie a chegada tão esperada, para que, em vez de trombetas, os solos de guitarras que a poucas conquistam, começam a tocar dentro de si.
Para essa noite nem se deu o trabalho de colocar o relógio, não queria ver o tempo passar, nem se preocupar com o horário do ônibus. Tudo estava tão claro em sua cabeça, tudo estava tão milimetricamente exato em seu pensamento. Não eram pensamentos embebidos da paixão causada no primeiro encontro, nem das decepções contidas no terceiro. Parecia que nele havia se realizado um encontro único: o dele consigo mesmo! Era algo tão consistente, que alcançava os mais próximos, causando admiração e espanto.
Combinaram de se encontrar ali, naquele exato local, para comemorar sabe-se lá o que. Era apenas um pretexto para que cometessem, mais uma vez, o pecado de amar. As conversas sempre foram indecisas, as propostas esdrúxulas, excêntricas. Não existiam promessas, apenas a vontade de estar próximo. Uma busca inexplicável de um bem estar indescritível.
Quando, de repente, Ele escuta a banda executar a música que, de forma tão delicada, havia ele preparado para embalar a noite dos amantes, noite que tinha imaginado tantas vezes quando ensaiava em casa, de frente para o espelho. Era a última musica a ser tocada naquela noite. A banda já se despedia. As pessoas já procuravam os destinos incertos oferecidos pela madrugada. Ele estava incrédulo.
“E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? E agora, você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? E agora, José? [...] o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou, e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?”
Ele então, voltou para casa, pegou seu instrumento e foi para frente do espelho, ensaiar mais uma vez, na ilusão de que seus olhos projetassem o que não saia do seu pensamento.

Um comentário:

Fernanda Castro disse...

Eita e agora? =D Belo...Bjos