terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ela teimava, não me dizia o que eu queria ouvir. Ela só confessava a loucura de nossas vidas quando eu, enlouquecido, gritava e pedia que ela também gritasse, desvairada. Eu pedia pra ela descer do muro e ela só me olhava, feito felina acuada, enfurecidamente domesticada, precisando do conforto dos meus braços, sem querer confessar.

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Ela mentia, dizia do cansaço, repetia nãos com o peito ecoando sins, desconversava, olhava e nada dizia, só pra me ouvir insistir depois de tantas recusas. Por que eu sabia que ela me queria, embora ela não desse ouvidos à minha canção que pedia que ela ficasse comigo. Só comigo.


S. Rocha

A leitura continua

Na baixa do sapateiro

Morena, eu ando louco de saudade
Meu Senhor do Bonfim
Arranje outra morena igualzinha pra mim

Oh! amor, ai
Amor bobagem que a gente não explica, ai ai
Prova um bocadinho, ô
Fica envenenado, ô
E pro resto da vida é um tal de sofrer
Ôlará, ôlerê

Ary Barroso

domingo, 12 de dezembro de 2010

Fogo


Qual brasa ela me queima,
Espalha-se como um vírus
Consumindo meu corpo febril.
Uma batalha suave, enlouquecida.

Formosa e inquieta ela chega,
Num corpo escultural seminu
Vem e ateia logo fogo viril,
E dentre vales nada se contenha.

Forte, suculenta e delirante,
Vestida de cetim, poço do prazer
Penetra insistente até a exaustão

Leva a uma dormência ofegante
Sucumbindo todas as forças do ser.
É humanamente impossível ter razão.

sábado, 11 de dezembro de 2010


Um tom pra cantar

Cantar com a voz, cantar com a alma.
Cantar com a alma na voz, com voz na alma.
Cantar com lágrimas na voz, com o silêncio da alma.
Cantar e cantar.
Cantar e morrer.
Cantar e iludir.
Cantar o prazer.
Cantar e sonhar sonhos de ilusões,
Ouvindo os boleros silenciosos da vida
Os rocks errantes noturnos.
Bossa nova desafinada.
Vinho da felicidade que embriaga de tristeza.
                         Suor e Vinho

    Na noite sem vinho                                   Tu ias e eu vinha,
Bebi e dancei no teu suor,                            De cima para baixo,   
   Em marcas múltiplas                                 De dentro para fora.
   Espalhadas em nós.                               Mover repetido e conexo. 
Nosso delírio sem igual.                              Nosso delírio sem igual.

  E tu me dizias ofegante                             Na dança dos corpos   
   Palavras prazerosas,                                 O tempo era cego,
       Eu festejava.                                  Por ver fontes tão quentes
     Eu, viril, vibrava                                Transbordando tanto desejo.
 Nosso delírio sem igual.                              Nosso delírio sem igual.
Nós
Sentado no meu quarto, ponho-me a pensar em nós. Nos nós empernados, nos braços amarrados, no vai e vem do amor, na loucura que embebia e enfraquecia os corpos. A noite era longa, o s s e g u n d o s d e m o r a d o s, como se o tempo quisesse eternizar o momento a ponto de nos esquecer no balanço da vida.
Nos amassos dos corpos afogado nos desejos, eu me perdia e gozava teus sussuros sedentos de prazer. A fraqueza das pernas, tantos membros energizados pelo fogo que imanava, que subia e sucumbia qualquer pudor, que desintegrava qualquer razão, nos deixando mais próximos daquilo que somos: irracionais.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Gente Humilde


Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece
De repente
Como um desejo de eu viver sem me notar
Igual a como, quando eu passo
Num subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem
De algum lugar
Aí me dá uma inveja
Dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada, escrito em cima
Que é um lar
Pela varanda, flores tristes
E baldias
Como a alegria que não tem
Onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito de eu não ter
Como lutar
E eu não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

Vinicius de Moraes